01 março 2006

"EM BUSCA DAS ESTATUAS PERDIDAS"
(AS ESTÁTUAS CASTREJAS DO LESENHO
– BOTICAS)


De entre os enigmas mais interessantes da história arqueológica do Alto Tâmega, sobressai o da explicação do aparecimento das chamadas estátuas castrejas do Lesenho, lugar do concelho de Boticas, distrito de Vila Real.
Usa-se aqui a expressão "estátuas castrejas" por esta ser uma designação neutra e consensual, mais do que outras como "guerreiros lusitanos", "guerreiros celtas" ou "estátuas galaicas", além de outras, usadas por vários dos autores que sobre elas escreveram. Embora poucos arqueólogos as tenham estudado, as suas descrições e as suas imagens são conhecidas dos que estudam a história do Alto Tâmega. Existe uma ideia geral daquilo que são e do que eventualmente possam significar.
Porém, sobre elas paira uma certa bruma de desconhecimento que nem o melhor trabalho académico sobre o assunto (1) logra dissipar de todo. Também não a dissipará a recolha de dados sobre a matéria de que se dará conta de seguida, cujo objectivo é facultar pistas a alguém mais avisado que as venha a ler e logre empreender tal tarefa.
As estátuas encontradas no Lesenho são quatro. Este conjunto é significativo, sobretudo sabendo que em todo o noroeste peninsular, no âmbito das investigações sobre a civilização castreja, apenas se descobriram e são conhecidas 32 destas estátuas. Além disso, como regra, surgiram isoladas. Em nenhum outro caso apareceram 4 no mesmo local 4 estátuas e somente em alguns casos apareceram duas delas (2).
As quatro do Lesenho pertencem ao espólio do Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, actualmente instalado no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Uma delas, divide ao meio a porta de entrada daquele museu. Outra, ilustra a sua colecção permanente de joalharia pré-romana. As duas últimas - as acéfalas -, estão encaixotadas na arrecadação do museu e apenas podem ser vistas após requerimento nesse sentido dirigido ao seu director, não podendo ser fotografadas.

DO LESENHO AOS JERÓNIMOS
Ficou acima dito que todas estas estátuas terão sido encontradas no Castro do Lesenho, em Boticas. Embora assim pareça ter sido, não há noticia que reporte com rigor com rigor o local ou a data da sua descoberta moderna. De duas delas sabe-se que no século XVIII estavam já na vizinha aldeia de Covas do Barroso, havia talvez um século. Aí foram vistas pelo Magistrado Judicial da comarca, Sr. Dr. Miguel Pereira de Barros, que se deslocara de Montalegre para visitar a terra (3). Nessa época, em que felizmente para eles e não só, os Magistrados podiam dedicar-se à pacata exploração turística das zonas mais remotas das respectivas comarcas, o Dr. Barros interessou-se pelas duas estátuas, achando que no local onde as viu, a praça fronteira à igreja paroquial, não lhes era dado o devido valor. Achou ainda que a comunidade culta da capital as apreciaria melhor, pelo que, usando prerrogativas de que hoje não disporia, mandou que os dois "guerreiros" fossem expedidos para Lisboa. Na altura, as duas estátuas foram colocadas num embrionário museu, que viria a passar pelos jardins do Palácio da Ajuda até chegar aos jardins de Belém. Aqui, foram incorporadas no Museu Etnográfico Português, entretanto criado por José Leite de Vasconcelos (4). Neste museu, foram expostas ao público e observadas com curiosidades pelos estudiosos. Logo em Janeiro de 1903, o francês PIERRE PARIS fez publicar nas páginas do "Archeologo Portuguez" (5) o primeiro estudo que se conhece sobre estas duas estátuas (6) . Chamava-lhes "statues de Ajuda" e "guerriers lusitaniens", referindo que haviam sido descobertas em Montalegre, em 1789. Aludindo também à estátua entretanto achada em Capeludos de Aguiar, também pertencente ao espólio do mesmo museu, dizia entender tratar-se de estátuas funerárias. Tendo em conta as formas algo grosseiras de representação, afirma ainda que se trata de manifestações pré-romanas. Este texto incluía duas gravuras representativas das estátuas. Mais tarde, em 1908, as páginas do "Archeologo Portuguez" voltariam a relatar interpretações destas estátuas, da autoria de FÉLIX ALVES PEREIRA (7).
Diferente sorte tiveram as outras duas estátuas actualmente conhecidas. Foi também nas páginas da mesma revista que a comunidade arqueológica as ficou a conhecer (8 ). Naquela revista, além de se descreverem, incluíam-se gravuras das duas novas estátuas. Referia-se que se ­encontravam em Viana do Castelo, na casa do respectivo achador, Luís de Figueiredo da Guerra. Delas se dizia, ainda, serem pré-romanas, correspondendo ao segundo período da Idade do Ferro, inserindo-se na chamada "arquitectura citaniense do noroeste da península" (9). Luís de Figueiredo da Guerra, que foi juiz na comarca de Boticas no início do século XX, foi efectivamente o "achador" das duas estátuas acéfalas hoje encaixotadas nas arrecadações dos Jerónimos. Do achado dá conta, em trabalho que fez publicar em 1911 (10) hoje disponível em reimpressão. Nele, este magistrado/arqueólogo refere visitou o castro de Lesenho em Julho de 1905, altura em que lhe foi dito que, além das estátuas que já conhecia por haverem sido descobertas em Covas do Barroso, havia uma terceira estátua no povoado de Campos. Dirigindo-se a esta povoação, a mais próxima do Castro de Lesenho, o Dr. Guerra viria a observar esta terceira estátua e ainda a descobrir uma quarta, "servindo de degrau a um casebre!" (11).
Não se conhecem outras referências bibliográficas a estas duas estátuas decapitadas (além da obra de Armando Coelho já referida), não havendo também memória escrita publicada da data em que terão sido removidas da casa do Dr. Figueiredo Guerra onde estavam desde 1909, para o Mosteiro dos Jerónimos, onde se encontram hoje. Apenas se sabe que até data indeterminada, entre 1917 e 1920, as estátuas estavam ainda em Viana (12). A circunstância de as duas estátuas degoladas terem estado transitoriamente em Viana do Castelo tem criado na historiografia regional do Alto Tâmega uma confusão quanto à sua actual localização, sempre assumida com sendo Viana do Castelo. Este dado erróneo, que atinge os arqueólogos regionais chegando mesmo a determinar outros de maior nomeada (13) foi superado pelo Professor Armando Coelho (14), que observou e descreveu todas as estátuas do género localizadas em Portugal. Quanto a estudiosos regionalistas, a veracidade de tal dado apenas é questionada pelo Dr. Manuel Carvalho Martins (15) que estranha que ainda actualmente no Museu de Viana do Castelo seja referenciada uma estátua de guerreiro castrejo, mas somente uma. Na verdade, esta estátua não é nenhuma das achadas no Lesenho, tendo sido descoberta em data muito anterior. É referenciada, quer por Luís da Guerra (16), quer pela equipa do Professor Santos Júnior (17) que, por sua vez, refere ter sido a mesma observada por Hubner. A sua zona de proveniência é a Serra de Arga, no Alto Minho, e encontra-se ainda hoje no museu de Viana (18).

O CASTRO DO LESENHO
No outeiro do Lesenho, que assumimos como local de origem das quatro estátuas, há vestígios de um castro, coroando um morro cónico e isolado, que alcança os 1075 metros de altitude. O local é rochoso e escarpado. As encostas estão semeadas de blocos graníticos de grandes proporções e também de pequenas pedras retiradas das muralhas destruídas. Já foi muito florestado, mas os incêndios deixaram-no descampado. Depois deles apenas cresceram no local vegetação rasteira e pequenos arbustos. O Castro de Lesenho está classificado como imóvel de interesse público (19). Não obstante, apenas há noticia de trabalhos de arqueologia nas suas ruínas em duas ocasiões (20). Numa delas, em 1960, foi refeita "a porta da muralha fundeira aberta a poente, e os pequenos troços de muralha a um outro lado dessa porta" (21). Na outra, em 1981, apenas foram feitos trabalhos de reconhecimento e levantamento. Terá havido ainda, em 1782, por ordem de Miguel Pereira de Barros, escavações no Lesenho, apenas referidas por Luís Guerra (22), "não constando o resultado". Estes trabalhos pouco terão diferido das inúmeras escavações levadas a cabo por caçadores imaginários fabulosos tesouros, ao longo dos séculos. Ao que se julga, este castro que, para Luís da Guerra "deve ser reputado o mais importante castro lusitano de Portugal" (23), deverá ter tido, em seu tempo, três cinturas de muralhas, com um perímetro de cerca de 200 metros. Delas, apenas a interior está bem perceptível, correspondendo as restantes, meramente, a "montes de pedra, que em alguns sítios pouco se patenteiam" (24). Nas sumárias escavações que a equipa do Professor Santos Júnior realizou (25) não foram descobertos vestígios de quaisquer casas - as quais seguramente existiram outrora. Apenas foram identificadas as muralhas e, nelas, algumas portas.
Actualmente, em virtude da fantástica configuração do morro, do qual se avistam todas as cadeias montanhosas da região (serra do Gerês, serra do Larouco, serra do Alvão, serra da Padrela e serra do Marão) está aí instalado um posto de observação florestal, para detecção de incêndios. A ele dá acesso um estradão florestal, que liga à estrada Campos/Boticas. O castro está localizado a leste da povoação de Campos, pertencente à freguesia de São Salvador de Viveiro e ao município de Boticas (26). A zona envolvente revelou já vestígios de outras manifestações castrejas. Entre outros, em locais próximos, conhecem-se os castros de Ervas Ruivas, em Lousas, do Paio, em Covas, de Vilar, de Codeçoso e de Secerigo. Há também referências a gravuras rupestres pré-castrejas (27) e ainda ao achado de mamoas na zona do sopé do outeiro de Lesenho (28). É também provável que este castro, de origem claramente pré-romana, tenha sido romanizado, uma vez que há notícia de aí ter sido encontrada cerâmica tipicamente romana (29).

O QUE RESTA DAS ESTÁTUAS.
São pois quatro as estátuas que se vêm referindo. Duas delas conservam ainda a parte correspondente à cabeça, o que não acontece com as outras duas. Em comum têm o material – pedra granítica ­em que foram esculpidas e o estilo em que foram trabalhadas. Esta identidade de estilo permite levantar a possibilidade de terem sido todas realizadas pelo mesmo autor ou autores. O que, aliás, é aplicável a outras estátuas com idênticas formas de representação surgidas no noroeste peninsular.
Armando Coelho sugere até que talvez tivessem sido construídas por "grupos de artistas ambulantes" que, como noutros períodos históricos "percorriam a região a construir obras de arte" (30). Justifica tal afirmação com o grande nível de perfeição das estátuas, que parecem "obras de artistas, em confronto com o carácter rude e grosseiro que muitas outras espécies escultóricas manifestam"(31 ). Já anteriormente Leite de Vasconcelos defendia, emblemática e significativamente, que "todos os guerreiros têm entre si ar de família, já na significação, já na arte, embora uns mais toscos que outros" (32). Todas as estátuas são monolitos de uma só peça, medindo, de altura, respectivamente, 2.07 m, 1.73 m, 1.57 m e 1.26 m, sendo as duas acéfalas as mais pequenas. A última, além de destituída da parte do corpo superior ao pescoço, está também danificada no seu flanco direito. Todas se apresentam estáticas, paradas e erectas. Quanto ao demais, têm características comuns, configurando-se como representações figurativas de guerreiros. Assim, todas elas empunham escudos no braço esquerdo e punhais no braço direito. Os escudos são redondos e planos, idênticos à “caetra" ibérica, de origem pré-romana. Por sua vez, os punhais curtos e triangulares são também diferentes dos gládios romanos, mais se identificando com os punhais característicos de épocas anteriores à Idade do Ferro e designadamente com os usados, na Idade do Bronze (33).
Por outro lado, todos os guerreiros são representados com saiote, de formatos idênticos embora ostentando motivos decorativos diferentes entre eles. A esta peça de vestuário chama Leite de Vasconcelos "túnica cingida ao corpo por cinturão" (34). Quanto às duas estátuas que conservam as suas cabeças, têm rostos semelhantes, onde sobressaem os olhos, salientes, e os narizes achatados. Ambas são barbadas e têm cabelos curtos. Por último, todas as estátuas têm em comum as peças de ourivesaria que ostentam. As que têm cabeça exibem "torques" no pescoço. Todas elas têm "viriae" em ambos os braços, as quais, na sua maioria, têm três argolas, sendo apenas de duas num dos braços de uma delas e de uma nos dois braços de outra. Quer as armas que empunham, quer os ornamentos que ostentam, permitem aproximar as estátuas da sua origem histórica. Quanto às armas, são claramente pré-romanas, denotando origem céltica, que alguns autores chamam impropriamente lusitana (35). Por sua vez, os ornamentos de ourivesaria, não só indicam a época de origem das estátuas, como revelam qual seu papel e posicionamento social e político. Com efeito, os "torques" são uma manifestação característica da cultura céltica. "Eram objectos de adorno, de grande valor material, demonstrando riqueza e, ao mesmo tempo simbólicos. Em linguagem actual chamar-lhes-íamos colares ou gargantilhas", caracterizando "uma das principais formas ou artes de ourivesaria - os torcidos" (36). São "jóias estruturalmente simples, constando de um aro de perfil circular ou afim, e normalmente com remates típicos nos extremos, adequado ao pescoço" (37). Sendo um elemento decorativo exclusivamente masculino, os torques "constituem sem dúvida o tipo de ornato pessoal mais significativo de ourivesaria castreja do noroeste peninsular" (38), sendo também, por outro lado "uma das jóias mais características da época de «La, Téne», identificada com os celtas pelos dados arqueológicos e pelos autores gregos e latinos" (39). Manuel Martins afirma ainda a este propósito que estes torques se reportam "ao período céltico ou gaulês", por serem semelhantes aos usados por aquele povo. Avança ainda a hipótese de existir na zona a que hoje corresponde Chaves uma espécie de oficina de produção de torques, uma vez que foram referenciados na região diversos exemplares, todos do mesmo tipo e com as mesmas características (40), provenientes, portanto, provavelmente, do mesmo artista ou grupo de artistas. Feitos "de bronze, prata ou ouro, eles definiam (…) o «status» social de quem os usava” (41). Segundo Armando Coelho “tudo indica que os torques se tenham convertido especificamente em signos de dignidade da função guerreira" (42).

QUEM TERÁ FEITO AS ESTÁTUAS E QUANDO.
O que se deixou dito e citado aponta, sem dúvidas de maior para a conclusão de que as estátuas do Lesenho representam guerreiros e terão tido origem período castrejo, configurando-se assim como uma manifestação da cultura céltica do noroeste peninsular. É todavia difuso aquilo a que habitualmente se chama a cultura castreja, ou céltica. A rígida e clássica periodização das "idades", em História, é cada vez menos inflexível e de fronteiras rígidas, oscilando em função de novos achados ou de reinterpretações daquilo que se conhece já. Neste pressuposto, admite-se que a Idade do Bronze cobriu todo o segundo milénio antes de Cristo, abrangendo, de 2000 - ou 1800 -, (43) a 1000 A.C. os períodos do Bronze Antigo e do Bronze Médio. Mas incluiu também os finais do 2º milénio, até cerca de 700 A. C., período correspondente ao Bronze Final. A cultura castreja terá assim como balizas, a montante, o Bronze Final, a jusante, a romanização (44). Na Península Ibérica, a evolução civilizacional em que se traduziu a cultura castreja foi determinantemente marcada pelas invasões célticas, que terão introduzido transformações de grande relevo na cultura autóctone. É porém sabido que já desde o advento da Idade do Bronze que se intensificou a fixação de povoações em locais de fácil defesa. As populações escolhiam elevações e outros sítios em que os meios naturais de defesa facilitassem a implantação de outros meios de defesa. E assim terão surgido os primeiros castros, povoações fortificadas em virtude das necessidades que os tempos impunham aos seus moradores. Os castros podiam ser simplesmente muralhas, em uma ou várias cinturas, ou podiam ter ainda fossos de pedras fincadas (45). Era esta a tendência de fixação dos povos no inicio do primeiro milénio A.C., na transição para a Idade do Ferro. Deste modo, conclui Santos Júnior, "grande parte dos castros do noroeste peninsular, com os de Trás-os-Montes inclusos, devem ser muito anteriores à penetração dos celtas na Península" (46). Segundo Mário Cardoso, alguns deles poderão ser mesmo anteriores à Idade do Bronze, remontando aos "tempos neoliticos" (47). A chamada civilização castreja teve assim uma grande longevidade, já que a generalidade dos castros subsistiram, e até ultrapassaram, a romanização. Embora alguns dos castros romanizados se tenham convertido em "cividades" romanas, outros, enquanto povoações fortificadas de montanheses, embora romanizadas, subsistiram ainda alguns séculos, mantendo a sua identidade.
Os celtas terão chegado à Península Ibérica cerca do século V A.C. (48), ou segundo Leite de Vasconcelos, pelos séculos VI-V A.C.,"chegando a sua influência até época romana" (49). Há autores que situam as invasões célticas no VIII século A.C., mas a tendência dominante, no seguimento dos autores clássicos (50) situa-as no século VI. A.C.. Com eles, os celtas trouxeram "um grau de cultura superior (...) e uma arte nova de trabalhar em ferro as armas e utensilios" (51).
Na península, encontraram já o produto da fusão de culturas autóctones com outras culturas. Encontraram pontos de influência dos fenícios, dos lígures e dos gregos, que aqui estavam estabelecidos em colónias costeiras. Provavelmente, encontraram também os túrdulos, povo de origem pré-indo-europeia.
Na verdade, desde os finais do III milénio A.C. a Península Ibérica servia de charneira a dois espaços geográficos em rápida evolução, colhendo contributos de ambos. De um lado, as culturas emergentes da bacia mediterrânica e do próximo oriente; do outro, os povos das costas europeias do Atlântico Norte (52). Este ambiente determinou a implantação, naquilo que é hoje o território nacional, de duas diferentes culturas. A sul, uma cultura mediterranizada, marcada pela influência dos povos comerciantes do mar interior. A norte, uma cultura inspirada pelos povos do norte, dominada pelo culto da guerra. Não há estudos determinantemente conclusivos sobre a chegada dos povos célticos e sobre a sua influência na evolução peninsular e, bem assim, sobre a assimilação socializadora que os invasores terão feito das civilizações autóctones. Com Manuel Martins, ocorre dizer que "não é fácil colocar marcas à expansão étnica ou cultural dos celtas" (53). Tanto mais que este conjunto de povos transmitiu a sua civilização, de geração em geração, de forma oral, sem que esta herança cultural fosse registada (54).
No que respeita ao noroeste peninsular e concretamente à área do Lesenho, em cujo contexto há que situar o surgimento das estátuas guerreiras, pode dizer-se, com Armando Coelho, que o seu ordenamento étnico "foi resultando da sedimentação de contributos diversificados trazidos por migrações e outros fenómenos de difusão em que se adivinha uma forte componente céltica de ordem cultural sobretudo denunciada por via linguística e se circunscrevem elementos de uma colonização túrdula, meridional, sobre um substrato indígena a que não faltavam influências de origem indo-europeia, que se manifestam em aspectos típicos da sua organização social" (55).
A divisão geográfica do território, correspondendo zonas de influência do que a povos com culturas regionais diferenciadas, apenas foi fixada ulteriormente na romanização. Citando autores clássicos, Leite de Vasconcelos defende que a “Callecia ou Gallecia, de modo geral corresponde às nossas províncias de Entre Douro e Minho e de Trás-os-Montes e à moderna Galiza", sendo que o "Douro separa da Lusitânia os Galegos" (56). Seria “habitada de célticos a região situada ao norte do Douro" (57).
Não se sabe se, na época romana, haveria ou não elementos comuns a este grupo de povos ditos célticos ou "callecii". Na região transmontana e duriense viviam a leste, os Zoelos ou Zélos (58). Um pouco para oeste, no actual Alto Tâmega, viviam os Turodos (59), que ocupavam a zona actualmente correspondente à cidade de Chaves (60) havendo quem sustente que este era o originário nome dos Aquiflavienses, povo que terá assim mudado de nome após a romanização e a fundação do município das Águas de Flávio (61). A noroeste, nas terras de Barroso e Larouco viviam os Equésios (62) cuja cidade de Caladunum estaria situada algures entre o Gerês e o Larouco. As terras da serra da Padrela estariam povoadas de Luancos e Coelernos. Não havia fronteiras entre os limites entre cada um destes povos, que em rigor nem estariam delimitadas. Até porque a ocupação territorial não era abrangente ou extensiva a todo o território. Não é assim possível saber com exactidão qual o povo que ocupava cada castro. Os autores defendem que, como regra, cada um dos povos estava unido por um laço comum. Designadamente por um núcleo familiar ou por um antepassado comum, que estabelecia entre os vários castros e as diversas famílias que o compunham, laços de sangue, "notório espírito de hierarquização geral, ao gosto das sociedades indo-europeias" (63). Esta é, aliás, uma ideia importante no momento de determinar o significado e função das estátuas de guerreiros castrejos. Tanto mais que, próximo das invasões romanas este sistema sócio-político rudimentar, baseado na consanguinidade, havia já sofrido alterações, dando origem a um outro modelo, fundado na fidelidade a um líder ou chefe militar. Esta circunstância viria, aliás, a facilitar a invasão romana, levada a cabo por um exército mais forte e dotado de grande organização (64), que apenas teve que defrontar, em geral, hordas de bravos montanheses, desorganizadas e isoladas umas das outras.
É que, na sociedade guerreira do norte, durante a Idade do Ferro, tinha aumentado o poder dos guerreiros. Ao contrário do que acontecera até então, a guerra, marcada cada vez mais pelo uso de armas de diferente natureza - superiores, portanto, sobretudo após a introdução do ferro -, passa a ser uma capacidade de apenas alguns. Torna-se por isso numa actividade de natureza económica, tendo em vista assegurar a subsistência própria e da comunidade, por via da conquista e da pilhagem. Estas circunstâncias conferem à função guerreira protagonismo social e político. O número de guerreiros passa a ser menor, constituindo a classe mais rica e dominante (65). Em sinal deste domínio, os guerreiros passaram a usar permanentemente armas, designadamente "espadas em «língua de carpa», lanças de bronze e escudos redondos de couro" (66). Por outro lado, como manifestação da riqueza ostentavam fíbulas de ouro ou bronze e braceletes (ou «viriae»). Usavam ainda torques. Estes ornamentos foram manifestações típicas da ourivesaria da fase final da Idade do Ferro.
Os arqueólogos e historiadores admitem que as estátuas de que se vem falando sejam representações figurativas de guerreiros. Aliás, a similitude da figura do guerreiro céltico do Ferro final a que acima se aludiu com as representações das estátuas é marcante. É pois neste contexto temporal que há que localizar o surgimento das estátuas (67).

O SIGNIFICADO DAS ESTATUAS.
O que já não é tão claro é o motivo pelo qual estas estátuas foram feitas. Não é possível afirmar peremptoriamente qual a sua finalidade, ou porque motivo reproduzem a imagem dos guerreiros do tempo. O granito, material nobre, indicia a intenção de perpetuar no tempo a realidade subjacente. A relativa perfeição das formas, em si mesmas rudes, mas mais acabadas que as referencias da época, denota importância e empenhamento. Por sua vez, a repetição significativa deste fenómeno sociológico e artístico por toda a região do noroeste peninsular expurga-o de quaisquer dúvidas sobre a necessidade de o considerar significativo. Esta multiplicação de fenómenos, por outro lado, obriga a considerar esta realidade de um modo englobante, enquanto manifestação de toda uma forma civilizacional e cultural, afastando interpretações que se reconduzam a parâmetros locais, de cada castro. Félix Alves Pereira, em 1908 (68), buscando o significado destas estátuas, estudou-as comparando-as com representações que considera de tipo idêntico, surgidas em Aveyron, em França (69).Estas estátuas francesas apareceram em grande número numa região delimitada. Tal como as estátuas portuguesas e galegas seriam parecidas entre elas, tendo uma interpretação escultural uniforme. ­Para estas estátuas, os arqueólogos franceses avançam a hipótese de serem imagens de divindade, com eventual carácter de guerreiro. Dada a similitude com as estátuas peninsulares, o citado autor afirma admitir que estas serão manifestação de fenómeno de natureza semelhante. Embora sem concluir, avança pois as possibilidades de serem representação daquilo a que chama um herói “eponymo” ou de serem estátuas evocativas de antepassados. Admite a associação destas duas variantes, de exaltação de um líder, que poderia ser um simples guerreiro, e de culto dos mortos.
Leite de Vasconcelos estudou detidamente estas estátuas ibéricas (70). Considera-as "estátuas proto-históricas, o que se vê, quer do tipo, quer de terem aparecido em castros ou perto deles". De forma significativa, trata o assunto no âmbito do culto dos mortos, e mais especificamente reconduzindo-o aquilo que designa por "divindades, crenças e cultos" (71). Consequentemente, considera que as estátuas são de natureza funerária, sendo erigidas provavelmente sobre túmulos de guerreiros (72), representando pois e evocando os guerreiros sepultados. Suporta esta suposição na comparação deste fenómeno com outros de idêntica natureza e função, observáveis na Nova Guiné e no Alasca (73). Não se aproxima, porém, de uma interpretação próxima da totemização do fenómeno (74).
Aliás, também Santos Júnior, que estudou com profundidade o fenómeno totémico proto-histórico no norte português, não arrisca identificar estas estátuas com cultos daquela natureza. No norte de Portugal apenas poderá falar-se de um culto de tal índole a propósito dos berrões surgidos, designadamente, no nordeste transmontano. Estes sim, protagonizariam um eventual culto zoolátrico totémico (75).
Todos estes autores assumem, porém, sem dúvidas, a natureza sagrada destas estátuas. Por isso, a representação de guerreiros que deles resulta não reveste apenas preocupações figurativas estéticas, revelando antes a manifestação de uma natureza sacra, ou de uma divindade. Mais que isso, parece até haver a pretensão de ser uma representação de concepção simbólica. Desta ideia parte Armando Coelho para concluir que uma tal representação simbólica e mítica da classe dos guerreiros tem "como atributo específico a exaltação da ferocidade" (76).
Não obstante, não pode ver-se nesta divinização de figuras guerreiras uma mera consequência de um qualquer fenómeno de culto dos mortos. As estátuas não podem reconduzir-se a meras lápides funerárias, votivas e evocativas. De facto, contra esta concepção minimalista há que argumentar, além do mais, com a prática funerária castreja ibérica: não era comum fazerem-se enterramentos de corpos em locais a isso especialmente determinados. Julga-se que se praticava a inumação dos cadáveres que, depois, eram guardados em pequenas urnas de cerâmica, eventualmente no seio da sua família, no interior das casas de habitação (77). Esta prática estendia-se a toda a Europa da época a qual, por sinal, viria a ser conhecida por período dos campos de urnas. Só mais tarde se detecta o enterramento em grandes campos de sepulturas, como o de Hallstadt que, por sinal, não tem paralelo na península Ibérica. Quanto às estátuas do Lesenho, não se sabe onde foram rigorosamente implantadas. Porém, não há registo de que alguma das outras estátuas encontradas no noroeste peninsular tenha surgido sobre qualquer sepultura. Pelo contrário, na Citânia de Sanfins existiu uma destas estátuas na entrada, em local onde não é provável que houvesse túmulos. Aliás, esta localização dá-lhe um "carácter evidentemente honorífico" (78). É portanto demasiado redutor considerar estas estátuas, como o faziam os clássicos, um fenómeno designadamente funerário. A sua motivação afigura-se menos concreta e mais ambiciosa, traduzindo "uma forma significante de hierarquia da função guerreira entre os povos castrejos, sugerindo (…) algo simbólico, abstractizante e geral" (79). Este estatuto é, sem dúvida, eminentemente religioso, como tudo o que era importante na cultura céltica, podendo significar "o culto dos chefes, de raiz documentalmente antiga no mundo indígena peninsular (...) e porventura também cumulativamente a glorificação dos antepassados própria de sociedades organizadas com base nos laços de sangue como era a sociedade castreja" (80).
Neste contexto, as estátuas castrejas do Lesenho representariam assim uma divindade guerreira. Junto dela se imolariam animais e prisioneiros, sempre que houvesse um combate ou em qualquer outra ocasião importante na vida do castro.
Ignora-se até que ponto os diversos povos célticos peninsulares trouxeram com eles a tradição teísta manifestada nas diversas culturas célticas europeias. Ignora-se assim se o panteão de divindades célticas da península corresponderia ao da matriz do norte da Europa (81). Se assim acontecia, então as estátuas poderiam ser uma manifestação do culto a Ogme, o deus da guerra (82).

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NOTAS
(1) Embora a qualificação, por leigo, de trabalhos académicos seja tarefa ingrata, estou a referir-me a "A Cultura Castreja do Noroeste de Portugal, dissertação de doutoramento em pré-história e arqueologia do Professor Doutor ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA, da Faculdade de letras do Porto, publicada pela Câmara Municipal de Paços de Ferreira e Museu Arqueológico da Citânia de Sabroso, em 1986.
(2) ARMANDO COELHO refere que apenas assim aconteceu na Citânia de Briteiros (Guimarães), no Monte Mozinho (Penafiel) e no Castro de Armea (Santa Mariña das Augas Santas, Allariz, Ourense) - cfr. op. cit..
(3) O Dr. Pereira de Barros era à data juíz na comarca de Montalegre, a qual incluía, além de Covas do Barroso, boa parte do actual concelho de Boticas. Mais tarde, em 1839, Covas seria incluída na comarca de Chaves, sendo em 1852 incorporada de novo na de Montalegre, até em 1878 ser criado o julgado municipal de Boticas. O município de Boticas, por sua vez, fora criado a 6 de Dezembro de 1836. Ou seja, em 1782, data da visita do Dr. Pereira de Barros, Covas do Barroso (e também, aliás, o Lesenho) pertencia não só à comarca judicial mas também ao concelho de Montalegre. Este comezinho pormenor histórico-administrativo tem tido pouca atenção dos responsáveis pelo Museu Nacional de Arqueologia, que têm classificadas e legenda das as estátuas como tendo sido encontradas no "Lesenho, Montalegre".
(4) Este museu, do qual Leite de Vasconcelos foi director, desde a respectiva fundação, em 1893, até 1929, veio a dar origem, nos nossos dias, ao Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, actualmente, como então, instalado na ala ocidental do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
(5) O "Archeologo Portuguez - Collecção Illustrada de Materiaes e Noticias” modernamente editado com o nome abreviado de "Arqueólogo Português", ê desde 1895 a revista publicada pelo Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, que então se chamava "Museu Ethnologico Portuguez".
(6) Cfr. PIERRE PARIS, "Statues lusitaniennes de Style Primitif", in "Archeologo Portuguez", nº 8, 1903, páginas 1 a 8.
(7) FÉLIX ALVES PEREIRA, "Novo Material Para o Estudo da Estatuária e Arquitectura do Alto Minho", in "Archeologo Portuguez", nº 13, 1908, páginas 202 a 244.
(8) FÉLIX ALVES PEREIRA, "Novas Figuras de Guerreiros lusitanos descobertas pelo Dr. Luiz de Figueiredo da Guerra", in "Archeologo Portuguez", nº 20, 1915, páginas 1 a 16.
(9) Idem, página 15.
(10) LUIS DE FlGUEIREDO DA GUERRA, "Noticia Histórica do Concelho e Villa de Boticas" I, Viana do Castelo, 1911, reimpresso, em "fac-simile", in "Notícias Históricas do Concelho e Vila de Boticas", recolha, organização e notas de José Pacheco Pereira, volume 1, Edição da Câmara Municipal de Boticas, 1982.
(11) Cfr. op. cit., página 31.
(12) De facto, da obra citada nas notas que antecedem, editada pela Câmara Municipal de Boticas, constam pequenos textos publicados no jornal "Ecos de Boticas” entre 1917 e 1920, da autoria de Luís de Figueiredo da Guerra, um dos quais reproduz sinteticamente o texto do seu livro, também citado, indicando que, à data, as estátuas estavam ainda em sua casa.
(13) Cfr. entre outros, AVELINO MIRANDA JÚNIOR, JOAQUIM NORBERTO DOS SANTOS e JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, “Castros do Concelho de Boticas – II Campanhas 1984-1985”, edição da Câmara Municipal de Boticas, 1986, página 63; JOÃO BATISTA MARTINS, “Concelho de Boticas - A sua história”, edição da Câmara Municipal de Boticas, 1992, página 49.
(14) ARMANDO COELHO PEREIRA DA SILVA, op. cit..
(15) Cfr. MANUEL JOSÉ CARVALHO MARTINS, "Por Aquas Flavias – Chaves”, edição da Câmara Municipal de Chaves, 1994, página 106.
(16) Cfr. LUIS DE FIGUEIREDO DA GUERRA, op. cit., página 29.
(17) Cfr. AVELINO MIRANDA JÚNIOR, JOAQUIM NORBERTO DOS SANTOS e JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, op. cit., página 66.
(18) Informação resultante da obra de ARMANDO COELHO, informalmente confirmada pelo Exmo. Director do museu. Sr. Dr. Matos Reis.
(19) Cfr. Decreto do Governo nº 29/90, de 17 de Julho.
(20) Cfr. AVELINO MIRANDA JÚNIOR, JOAQUIM NORBERTO DOS SANTOS e JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, op. cit., página 56.
(21) Idem.
(22) Ctr. LUIS DE FIGUEIREDO DA GUERRA, op. cit., página 30.
(23) Idem, página 50.
(24) Cfr. AVELINO MIRANDA JÚNIOR, JOAQUIM NORBERTO DOS SANTOS e JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, op. cit., página 62.
(25) Estas escavações estão descritas em AVELINO MIRANDA JÚNIOR, JOAQUIM NORBERTO DOS SANTOS e JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, op. cit., página 56 e seguintes.
(26) A freguesia de São Salvador de Viveiro foi criada a 28 de Janeiro de 1967 (Decreto-lei nº 47.516). Até essa data, Campos e o Lesenho pertenciam à freguesia de Covas do Barroso, também do município de Boticas.
(27) Cfr. AVELlNO MIRANDA JÚNIOR, JOAQUIM NORBERTO DOS SANTOS e JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, op. cit., página 67 e seguintes.
(28) Cfr. JOÃO BATISTA MARTINS, op. Cit., página 33.
(29) Cfr. JOÃO BATISTA MARTINS, "De Boticas até á vista de Lesenho", in Noticias de Chaves de 16.V.1995, página 3.
(30) ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA, op. cit.,página 292.
(31) Idem.
(32) Cfr. J.LEITE DE VASCONCELOS, “Religiões da Lusitânia", volume III, Lisboa, 1913, página 59 (reimpressão da Impressa Nacional, em "fac-simile", de 1981).
(33) Ver, neste sentido, FÉLIX ANTÓNIO PEREIRA, "Novo Material Para o Estudo da Estatuária e Arqueologia do Alto Minho", in "Archeologo Portuguez", nº 13, 1908, páginas 202 a 244.
(34) J. LEITE DE VASCONCELOS, op. cit., página 48.
(35) Ver sobre esta questão, com pertinência, JOÃO BATISTA MARTINS, "Estátuas de Guerreiros Ditos Lusitanos, Quando São Calaicos ou Galaicos", in Notícias de Chaves de 11 de Outubro de 1996, página 16.
(36) MANUEL JOSÉ CARVALHO MARTINS, op. cit., página 96.
(37) Cfr. ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA, op. cit., página 234.
(38) Idem.
(39) Ibidem, página 235.
(40) Cfr. MANUEL JOSÉ CARVALHO MARTINS, op. et loc. cit..
(41) Idem.
(42) ARMANDO COELHO FERRE IRA DA SILVA, op. cit., página 235.
(43) Cfr., neste sentido, “Enciclopédia Universal da Arte”, volume 3º, "As Origens da Europa", Publicit Editora, Lisboa, 1980, página 88.
(44) Cfr. ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA, op. cit., página 315.
(45) Ao contrário das muralhas, que existiam em todos os castros, os fossos de pedras fincadas são menos frequentes. Na região envolvente do Lesenho há um fosso de pedras fincadas no Castro de Carvalhelhos, havendo um outro um pouco mais distante, ainda no município de Boticas, no Castro de Cunhas, em Ardãos.
(46) Cfr. JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, "Berrões Proto-históricos do Nordeste de Portugal", Porto, 1975, página 156.
(47) Cfr. MARIO CARDOSO, "Castros", in "Dicionário de História de Portugal", Livraria Figueirinhas, Porto.
(48) Cfr. neste sentido JÚLIO MONTALVÃO MACHADO, "Crónica da Vila Velha de Chaves", edição da Câmara Municipal de Chaves, 1994, página 19.
(49) Cfr. J. LEITE DE VASCONCELOS, op. cit., volume IIº, Lisboa, 1905, página 67.
(50) Cfr. JOEL SERRÃO, "La Téne", in "Dicionário de História de Portugal", livraria Figueirinhas, Porto, 1971.
(51) Cfr. JÚLIO MONTALVÃO MACHADO, op. et loc. cit..
(52) Cfr. “Portugal - Das Origens à Época Romana", edição do Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, coordenação de Francisco Alves, Lisboa, 1989, página 51.
(53) Cfr. MANUEL JOSÉ CARVALHO MARTINS, op. cit., página 102.
(54) Apenas o viria a ser parcialmente, por monges cristãos, na Irlanda, no século VI.
(55) Cfr. ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA. Op.cit., página285.
(56) Cfr. J. LEITE DE VASCONCELOS, op. cit., volume IIº, Lisboa, 1905, onde se refere que ESTRABÃO (III.IV.20) e PLÍNIO ("Naturalis Historia”, IV, 119) coincidem, afirmando que “o Douro separa da Lusitânia os Galegos” e "do Douro para o extremo norte habitavam os Calleci", respectivamente.
(57) Idem, página 63.
(58) Cfr. Segundo AVELINO MIRANDA JÚNIOR, JOAQUIM NORBERTO DOS SANTOS e JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, op. cit., página 91, que defendem que este povo se estenderia "aos castros de Boticas", ai se incluindo o Lesenho.
(59) Cfr. neste sentido J. LEITE DE VASCONCELOS, op.cit., volume IIº, página 75.
(60) Cfr. JÚLIO MONTALVÃO MACHADO, op. cit., página 20.
(61) Ver em ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA, op. cit., páginas 275 e 276.
(62) Idem.
(63) Cfr. ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA, op. cit., página 276.
(64) Ver sobre este aspecto de pormenor CARLOS CONSIGLIERI e MARÍLIA ABEL, “Os Lusitanos no Contexto Peninsular", Caminho, Lisboa, 1989, páginas 11 e seguintes.
(65) Ver, neste sentido, “Portugal - Das Origens à Época Romana", cit., página 55.
(66) Idem, página 54.
(67) OCTAVIO GIL FARRÉS, conservador do Museu Arqueológico Nacional, de Madrid, atribui esta estatuária ao século I A.C. - Cfr. "Celtas", in "Dicionário de História de Portugal", Livraria Figueirinhas, Porto, 1971.
(68) Cfr. FELIX ALVES PEREIRA, "Novo Material Para o Estudo da Estatuária e Arquitectura do Alto Minho”, in "Archeologo Portuguez”, nº 13, 1908, páginas 202 a 244.
(69) Idem. página 236.
(70) Cfr. J.LEITE DE VASCONCELOS, "Religiões da Lusitânia", volume IIIº, Lisboa, 1913, página 59 e seguintes (reimpressão da Impressa Nacional, em "fac-simile", de 1981).
(71) Cfr. op, cit., capitulo XVIII.
(72) Idem, página 60.
(73) Ibidem, página 61.
(74) Ou seja, não vê nas estátuas representação de uma entidade, "coisa ser vivo, animal ou planta (…) que é considerada como o tronco inicial, remoto, de um grupo de homens, o grupo totémico. O «totem., em primeiro lugar é pois o «antepassado do grupo», em segundo lugar é o seu «espírito protector», que envia oráculos e, mesmo quando é perigoso para os outros, conhece e poupa os seus filhos”. Cfr. sobre esta matéria JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, "Berrões Proto-históricos do Nordeste de Portugal”, Porto, 1975, página 162.
(75) Cfr. JOAQUIM RODRIGUES DOS SANTOS JÚNIOR, "Novos Elementos da Remota Zoolatria em Trás-os-Montes", in "Trabalhos de Arqueologia e Etnologia", volume XXIII, fascículo 1, Porto, 1977, páginas 5 a 28.
(76) Cfr. ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA, op. cit., página 288.
(77) Idem, página 293.
(78) Ibidem, página 293.
(79) Idem.
(80) Cfr. ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA, op. cit., página 294.
(81) As estátuas do Lesenho não têm inscrições, contrariamente ao que acontece com outras das estátuas encontradas no noroeste peninsular. Ignora-se se tais inscrições são originais, portanto gravadas na mesma época em que as estátuas foram esculpidas, ou se foram mais tarde acrescentadas. No caso especial da estátua de Refojos de Basto, é claro que as várias inscrições são muitíssimo posteriores. Nos restantes, não há tantas certezas. Em todo caso, algumas delas contêm inscrições, em latim ou dialectos celtizantes - o que desde logo suscita dúvidas sobre a altura da sua gravação -, que revelam o seu claro carácter religioso, embora não explicitamente coincidente com as matrizes célticas do norte. Assim acontecia com a estátua de São Julião de CaldeIas, onde pode ler-se uma expressão traduzível por "filho da montanha", a estátua de Rubiás (Celanova, Ourense), onde está escrito algo que significará "guerrilheiro" e a estátua de S. Paio de Meixedo, legendada com os qualificativos de "famoso" ou “ínclito". Ver sobre esta matéria ARMANDO COELHO FERREIRA DA SILVA, op. cit..
(82) Ogme, designação irlandesa, correspondente a Ogmios, designação gaulesa, que os romanos fizeram equivaler a Marte, era o deus da guerra dos celtas. Era o único (só havia um deus da guerra entre os celtas, ao contrário do que acontecia noutras culturas) e ocupava o terceiro lugar, em importância, no panteão dos deuses célticos. Ver sobre esta matéria, FRANÇOISE LE ROUX e CHRISTIAN-J. GUVONVARC'H, "A Sociedade Celta", Publicações Europa América, Lisboa, 1995, página 126 a 132.

2 Comments:

Blogger garina do mar said...

cheguei aqui à procura de um livro da Françoise Le Roux...
e descobri coisas parecidas com o que temos tentado fazer no nosso blog!! apesar de o nosso se limitar ao que é de Portugal e ao que é do Mar..
vou voltar mais vezes

10:23 da manhã  
Blogger Maria said...

É só para informar que é falso que as estátuas de Guerreiro do Outeiro Lezenho - Boticas, não tenham inscrições. As incrições de uma delas estão neste momento na base de uma tese de Doutoramento de um Arqueólogo português, que está a fazer o seu doutoramento em Espanha.

4:38 da tarde  

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